Expressões Faciais
O rosto humano (expressões faciais) consiste de um vasto panorama em constante movimento do que se passa no nosso mais íntimo estado de espírito, com uma diversidade considerável de nuances e uma grande complexidade.
Desde sempre a humanidade vem desenvolvendo, de forma natural, a capacidade de compreender as expressões faciais dos demais, no início como estratégia de sobrevivência (amigo/inimigo), e atualmente visando relacionamentos de todos os tipos.
Apenas com base na sensibilidade e na intuição, todos nós passamos uma parte considerável do tempo interpretando, analisando e reagindo aos sinais perceptíveis das expressões faciais dos chefes, dos cônjuges, dos professores, dos parceiros, dos colegas de trabalho, de estranhos, dos parentes, etc.
Com a tecnologia e a capacidade de processamento de dados cada vez maior, o rosto de cada um de nós e as informações que são transmitidas espontaneamente já há algum tempo deixaram de ser apenas a forma como nos apresentamos, nos relacionamos ou nos comportamos em público.
Longe de somente sinalizarem o nosso estado de espírito momentâneo ou a nossa reação às situações, às pessoas ou aos fatos, todo esse conjunto de dados tem sido, cada vez mais, tratado como algo estratégico e objeto de estudos intensos.
O emprego da análise das expressões faciais não para de crescer, seja com a Apple utilizando para destravar o i-phone, em igrejas nos Estados Unidos tentando atrair fieis, na Inglaterra identificando responsáveis por furtos em lojas, com a polícia no país de Gales prendendo suspeitos em jogos de futebol, na China identificando motoristas indisciplinados, permitindo acesso de turistas a determinadas atrações, entre outros.
Na área médica algumas aplicações são bastante promissoras, como o diagnóstico precoce de doenças genéticas como a síndrome de Hajdu-Cheney, em esperançosas tentativas de tratamento do autismo, em determinar se uma pessoa está com depressão ou mesmo se uma dor é real ou psicológica.
Todas essas novidades têm suscitado discussões acaloradas com relação à invasão (ou não) de privacidade, visto que, por exemplo, a identificação de preferências sexuais alcançou 81% de acerto pelo algoritmo, enquanto as pessoas (sem o recurso) em 61% das vezes fizeram essa identificação correta.
Existiria, portanto, um potencial risco de discriminação por parte das empresas, por exemplo, no recrutamento de funcionários, tanto que os legisladores de alguns países na Europa já se movem no sentido de considerar os dados biométricos como informações pertencentes às próprias pessoas e não algo de domínio público.
Mas, voltando aos tipos de aplicações que nos interessariam, o fato é que as expressões faciais, na maior parte das vezes, comunicam mais e melhor do que as palavras, seja por serem espontâneas, sinceras, naturais, por refletirem o real sentimento ou emoção, e acima de tudo por não serem racionais.
Trata-se assim de um recurso importante a ser empregado de forma complementar às demais técnicas existentes na neurociência e na pesquisa de mercado, de modo a compreender aquilo que as pessoas não sabem, não conseguem ou talvez não queiram verbalizar.
Paul Ekman foi o pioneiro na análise das expressões faciais com as suas pesquisas ainda nos anos 60. Dentre as suas maiores contribuições destaca-se a comprovação da existência de no mínimo 6 emoções humanas, passíveis de serem identificadas independentemente de gênero, da idade ou mesmo da cultura.
Esse estudo resultou na decodificação dessas emoções em combinações distintas de 46 tipos de movimentos faciais que possibilitavam aplicações distintas desde animações até detector de mentiras.
Com o avanço da tecnologia e a maior capacidade de processamento das informações, os usos desse conhecimento têm se expandido consideravelmente. Basicamente o algoritmo consiste em mensurar as movimentações de uma série de pontos virtualmente criados no rosto do participante em relação a outros pontos fixos.
Assim, a posição da boca, lábios, bochechas, sobrancelhas, pálpebras, rugas etc. são constantemente comparados com outros pontos (como a ponta do nariz, do queixo), com o padrão da expressão facial de cada um e também com uma tabela de referência, possibilitando a identificação de emoções como alegria, confusão, frustração, surpresa, medo, raiva, nojo, etc.
Em estudos que a Checon já tem realizado é possível avaliar o quanto determinado comercial agrada (ou não), em que intensidade esse envolvimento é positivo (ou não), em que trechos do comercial são necessários ajustes ou reforços, tudo sem sequer perguntar aos participantes, sempre de forma clara, objetiva, passível de ser compreendido até por quem sequer seja da área de neuro ou de pesquisa.
Os mesmos tipos de conclusões são possíveis na avaliação das reações das pessoas a um discurso político, de modo a compreender se existe entendimento ou engajamento, quais as passagens carentes de maior clareza, se existe aprovação, aceitação, sempre de forma não invasiva, sem nem sequer interagir diretamente com os participantes.
Em trabalhos sobre usabilidade de sites, as dificuldades na realização de determinadas tarefas ficam evidentes com as expressões faciais negativas, ou com demonstrações de raiva, dúvida, de insatisfação ou de frustração, mesmo que não admitidas no testemunho ‘racional’ dos participantes.
Outro uso bastante interessante das expressões faciais consiste na análise das reações dos consumidores frente às vitrines das lojas, possibilitando a identificação do impacto causado, dos pontos fortes e fracos de cada opção, até mesmo da capacidade de atração enquanto ‘convite’ às pessoas para o interior do estabelecimento.
Isso sem falar da indústria alimentícia analisando as expressões faciais em testes de degustação ou de preferência entre produtos em testes cegos, ou em bancos avaliando as reações frentes a caixas eletrônicos, ou montadoras avaliando o comportamento dos motoristas dirigindo ou identificando sinais de sonolência ao volante.
As micro expressões oferecem uma valiosa contribuição na avaliação da tomada de decisões podendo prever se determinada compra se realizará (algo que um flash de desgosto pode desmentir), ou se determinado preço é adequado (algo que uma expressão de alegria pode confirmar e uma de raiva pode desmentir).
Uma vez que na maior parte das vezes essas micro expressões sequer são percebidas pelos próprios participantes, por serem reações espontâneas, se constituem em preditores mais confiáveis do que as resposta (muitas vezes) politicamente corretas (não pouco frequente) que comprometem muitas das previsões de vendas.
A escolha de um candidato e a intenção de voto também se enquadram perfeitamente nessa avaliação da tomada de decisões de forma aparentemente mais confiável do que a mera declaração racional dos eleitores.
Existem dados impressionantes quanto ao acerto das intenções do voto dos eleitores americanos na eleição presidencial de 2010, apenas com base nas expressões faciais coletadas no debate Obama & Romney que alcançaram 73% de confirmação, isso sem fazer nenhuma pergunta.
Maiores informações: The Economist – What machines can tell from your face
The New Yorker – We know how you feel
Paul Eckman – Facial Action Coding System